
O mês de agosto está chegando, e com ele vem um dos feriados mais importantes do Japão: o Obon. Neste post, vamos te explicar o significado dessa celebração e por que ela também é conhecida como o “Festival dos Mortos”.
O Obon (お盆) é uma tradição religiosa budista que homenageia os espíritos dos antepassados. Acredita-se que, nessa época do ano, eles retornam ao mundo dos vivos para visitar seus familiares.
Essa semana é considerada uma das três principais temporadas de férias no Japão, ao lado do Ano Novo e da Golden Week. Por isso, também é um dos períodos mais movimentados do ano, principalmente nas estradas, aeroportos e estações de trem.
Quando é o feriado de Obon?

Originalmente, o Obon era celebrado no 15º dia do sétimo mês do ano, de acordo com o calendário solar — ou seja, em julho. Mas com a adoção do calendário lunar, a data foi ajustada, e hoje a celebração acontece, na maioria das regiões, entre os dias 13 e 16 de agosto.
Durante esse período, muitas empresas concedem folgas remuneradas, embora a duração e as datas possam variar de acordo com a região ou com a política de cada empresa. Nos últimos anos, o Obon tem sido amplamente comemorado em agosto, coincidindo com as férias escolares de verão.
É comum que muitas pessoas deixem suas cidades por volta do dia 10 de agosto e só retornem após o dia 17 ou 18, tornando esse um dos períodos com maior fluxo de viagens no país.
A origem do Obon

A origem exata do Obon ainda não é totalmente clara, mas acredita-se que tenha surgido do budismo na Índia, se espalhado pela China e Sudeste Asiático, e, por fim, chegado ao Japão.
De acordo com a tradição, a história teve início com um discípulo de Buda chamado Maha Maudgalyayana, mais conhecido como Mokuren, que adquiriu poderes sobrenaturais e os usou para observar sua falecida mãe. Mokuren ficou muito triste e surpreso ao descobrir que ela estava sendo torturada por espíritos no Reino dos Fantasmas Famintos.
Mokuren tentou enviar comida e água para aliviar o sofrimento da mãe, mas tudo o que ela recebia se transformava em fogo. Desesperado, ele procurou Buda em busca de orientação. Buda o aconselhou a fazer oferendas aos monges budistas no 15º dia do sétimo mês, quando estes terminassem um retiro de verão.
Mokuren seguiu o conselho e, ao fazer as oferendas, não apenas libertou sua mãe, como também compreendeu o amor e os sacrifícios que ela havia feito por ele em vida. Emocionado, ele dançou de alegria — e essa dança deu origem à tradição do Bon Odori (盆踊り).
Mukaebi: dando boas-vindas aos mortos

Em meados do mês de agosto, acontece uma grande movimentação em todo o Japão, uma vez que muitas pessoas retornam às suas cidades natais para prestar homenagens aos antepassados ao lado da família.
Depois de limpar e decorar os túmulos, os familiares realizam o Mukaebi (迎え火), o “Fogo de Boas-Vindas”, com lanternas e pequenas fogueiras usadas para guiar os espíritos de volta para casa.

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Bon Odori
O maior espetáculo dos três dias do festival é o Bon Odori (盆踊り), uma dança folclórica tradicional em homenagem ao espírito dos mortos. Cada região do Japão tem seu próprio estilo de dança e música, com coreografias e letras que refletem a identidade cultural local.
Uma das coisas mais especiais no Bon Odori é que ele é para todos — pessoas de todas as idades, desde crianças até idosos, podem participar e dançar juntas, criando um clima de união e celebração.
As apresentações costumam acontecer ao redor de uma estrutura central chamada Yagura, e muitos participantes usam yukata, um quimono leve típico do verão. As danças acontecem em praças, parques, templos e outros espaços públicos, que se transformam em cenários cheios de tradição, alegria e espírito comunitário.
Shōryōma: oferenda aos mortos

Durante o Obon, são montados altares conhecidos como bon-dana ou shōryō-dana, onde são feitas oferendas aos espíritos. Entre os itens colocados nesses altares estão frutas, vegetais da estação, um pepino e uma berinjela com “perninhas” feitas de palitos, conhecidos como shōryōma (精霊馬).
Esses vegetais representam um cavalo (pepino) e uma vaca (berinjela). O cavalo simboliza o desejo de que os espíritos retornem rapidamente para casa, enquanto a vaca representa uma despedida tranquila e lenta ao final do festival.
Comidas típicas do Festival de Obon

Como em muitos grandes festivais no Japão, a comida também tem um papel especial nas celebrações do Obon. Como o feriado acontece no auge do verão, é comum ver as pessoas se refrescando com melancia e kakigōri, uma raspadinha de gelo com calda.
Além disso, não faltam os clássicos das barraquinhas de festival, como okonomiyaki (panqueca japonesa), takoyaki (bolinhos de polvo), dango (bolinhos de arroz no espeto), karaage (frango frito) e yakitori (espetinhos de frango grelhado), entre muitos outros quitutes que fazem parte da experiência do Obon.
Toro Nagashi: lanternas flutuantes

No último dia do Obon, acontece a cerimônia chamada Tōrō Nagashi (灯籠流し), ou “Lanternas Flutuantes”, em que lanternas de papel são colocadas nos rios ou no mar para guiar os espíritos de volta ao seu mundo. A palavra Tōrō significa “lanterna” e Nagashi quer dizer “correnteza” ou “fluxo”.
Segundo a crença japonesa, todos os seres humanos vieram originalmente da água, por isso as lanternas simbolizam o retorno dos espíritos aos elementos da natureza.
Okuribi: o fogo de despedida
Nas tradições do Obon, da mesma forma que o fogo é usado para receber os espíritos, ele também é usado para se despedir. O Okuribi (送り火) — “Fogo da Despedida” marca o fim da visita espiritual.
A forma mais conhecida dessa tradição acontece em Kyoto, no famoso evento Gozan no Okuribi, no dia 16 de agosto. Cinco grandes fogueiras são acesas nas encostas de montanhas ao redor da cidade, formando caracteres gigantes que podem ser vistos de longe.
Embora o Obon também seja conhecido como o “Festival dos Mortos”, é importante ressaltar que ele não tem um tom sombrio nem é marcado por tristeza ou medo. Pelo contrário, o Obon é um período de acolhimento espiritual, no qual se acredita que os espíritos dos antepassados retornam para visitar seus familiares. É uma época de reencontros, reflexão e gratidão, celebrada com rituais budistas, reuniões em família, oferendas e as tradicionais danças Bon Odori, que homenageiam os que já partiram de forma alegre e respeitosa.
E aí, você conhecia alguma dessas curiosidades sobre o Obon?
Imagem de destaque: Arte criada por Richard Tokio/ Dia a Dia
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